Um programa inovador e que pode ajudar a prevenir tragédias e enchentes, como a que ocorreu no município de Picos, em janeiro deste ano. Por meio de um software, é possível simular situações de risco envolvendo desastres naturais. A pesquisa existe há cerca de três anos e meio e é coordenada pelo Professor Dr. Jean Prost Moscardi, do Departamento de Recursos Hídricos, Geotecnia e Saneamento Ambiental, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que atua nas áreas de água, tratamento, sustentabilidade e segurança do trabalho.
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Segundo o pesquisador, a simulação acontece por meio de um software americano, “Hec-Ras”, o mais utilizado no mundo em eventos de drenagem e rupturas de barragens. Jean Prost explica que o programa inicialmente não considerava os quarteirões na área urbana, que atuam como barreiras para o fluxo da água. Após um intenso trabalho, foi possível incluir essa característica no software, tornando as simulações mais próximas da realidade.

“Demoramos cerca de três anos e meio para colocar esses quarteirões na área urbana, para que, na hora da simulação, a água os identificasse e desviasse, tornando o modelo o mais real possível. Conseguimos e até publicamos um trabalho em uma revista especializada”, disse.
Com essa nova funcionalidade, o professor conta que foram feitas diversas simulações, tanto na área urbana quanto rural. Em Teresina, bairros como o Torquato Neto, na zona Sul, e Vale do Gavião e Satélite, na zona Leste, já aram por simulações. O bairro Bomba, em Picos, também ou por essa simulação. Vale lembrar que a região sofreu com uma forte enchente em janeiro deste ano.
Para que a simulação aconteça, é necessário utilizar outros programas para alimentar o “Hec-Ras” com dados de chuvas e pluviometria. “Há uma série de fatores envolvidos, para que a simulação seja a mais correta possível, porque senão o computador emite um dado e não faz a análise crítica, e é isso que nós fazemos, para ver se os modelos estão condizentes”, explica.
Importância do plano diretor da região
Diversas informações são necessárias para o desenvolvimento das drenagens, principalmente a topografia. Jean Prost ressalta que, se a carta topográfica não estiver correta, o software não dará uma resposta precisa, o que pode comprometer o resultado final. O plano diretor da região também é extremamente relevante, pois nele há informações sobre o zoneamento da cidade. Já as equações de chuvas também identificam os tipos de chuvas registrados em determinados locais. Além disso, é necessário considerar o tipo de vegetação e o bioma de cada região. Com esses dados, o resultado varia de 80% a 95% de eficiência.
O interesse em monitorar determinadas áreas de Teresina surgiu do próprio professor, mas também de estudantes e da comunidade que vive nos bairros com maiores registros de enchentes e alagamentos. No bairro Torquato Neto, por exemplo, os líderes comunitários solicitaram nossa ajuda, enquanto no Satélite foram os discentes. Toda vez que a Universidade nos solicita, fazemos um estudo para saber a viabilidade, e assim fazemos”, afirma.

Somente para colocar os dados nos programas, a equipe leva em torno de cinco dias, trabalhando com uma carga horária de cinco horas por dia. Porém, esse tempo pode ser maior, dependendo do tamanho da área a ser estudada. Já o processamento desses dados pode levar de seis a 72 horas. Em alguns casos, uma determinada área exigiu 96 horas de processamento ininterrupto. Após o processamento, é feita a análise crítica das informações, o que demanda mais um dia de trabalho.
“Cada região demoraria, em média, uma semana para cada simulação, sendo que são obrigatórias de quatro a seis simulações, o que dá em torno de um a dois meses para fazermos várias simulações por regiões, considerando os diversos tipos de chuvas. O mesmo ocorre com as barragens”, explica o professor.
Programa pode auxiliar o poder público a adotar ações de prevenção
Com os respectivos dados no programa, o Professor Dr. Jean Prost explica que é possível fazer a simulação com qualquer tipo de chuva. Assim, a principal vantagem dessa pesquisa é a possibilidade de identificar diversos fatores, desde onde poderá ocorrer um alagamento, qual a força da água, se ocorrerá destruição, se há risco de arrastar pessoas, automóveis ou até destruir casas.
“Tudo isso é ível de identificação pelo software. É possível ver o poder de destruição dessa água, mas, principalmente, para onde ela vai ocorrer. Tendo essas informações, podemos saber quais são os pontos que não sofrem alteração e, a partir das várias simulações e dos tipos de chuva, avisar, determinar e até definir pontos de segurança onde essa chuva não vai causar danos”, enfatiza o pesquisador.

Essas informações podem auxiliar, inclusive, as equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros a ar essas áreas de maneira segura e, assim, começarem a fazer os resgates. Além disso, com a identificação das ruas, pode-se prevenir possíveis acidentes ou perdas.
“Esse software é importante para auxiliar desde o trajeto até a escolha de uma área segura que não sofra alagamento, bem como para avaliar o poder destrutivo da água. Mas ele também pode contribuir para um estudo de prevenção de um plano diretor, no qual é possível identificar as áreas que não deveriam ser ocupadas ou zoneadas, e até na melhora da qualidade de vida dos moradores, devido à identificação de locais de construção de galerias e espaço de drenagens”, conclui o professor Jean Prost.
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