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Empresas apostam em soluções prontas de IA, enquanto parcerias com universidades seguem limitadas

Apenas 12% das empresas brasileiras estabeleceram parcerias com universidades ou centros de pesquisa, revela pesquisa TIC Empresas 2024

07/06/2025 às 08h00

A 16ª edição da pesquisa TIC Empresas, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que a adoção de Inteligência Artificial (IA) no setor privado brasileiro em 2024 manteve um ritmo estável: tímidos 13%, a mesma proporção de 2023 e 2021. O estudo revelou ainda que uma minoria das empresas que utilizam IA estabeleceu colaborações com fundações ou associações sem fins lucrativos (12%), universidades ou centros de pesquisa (12%) e órgãos de governo (7%).

O mesmo levantamento revela que, entre as companhias que utilizam IA, a grande maioria (76%) optou por adquirir softwares ou sistemas prontos. Além disso, 56% contrataram fornecedores externos para desenvolver ou modificar as ferramentas de IA que utilizam, e apenas um quarto (25%) afirmou que os sistemas de IA em uso foram desenvolvidos internamente.

Resultados que revelam o predomínio das chamadas “soluções de prateleira” e da terceirização da gestão da IA. Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br/Nic.br, essas preferências evidenciam que as empresas brasileiras ainda estão dando os primeiros os na adoção da inteligência artificial.

A reflexão que a pesquisa provoca é que essa falta de sinergia entre o setor produtivo e as instituições de pesquisa e fomento pode representar um gargalo para o avanço da inovação em IA no país, limitando o desenvolvimento de soluções mais customizadas e adaptadas à realidade brasileira.

Não se questiona aqui o uso de soluções externas, que é legítimo e pode, sim, ser eficiente. Mas quando empresas confiam exclusivamente em soluções importadas, não apenas geograficamente, mas intelectualmente, perdem a oportunidade de construir conhecimento, gerar propriedade intelectual local e capacitar seus próprios times. Além disso, ao abdicar de parcerias com universidades, elas perdem o não apenas a cérebros brilhantes, mas também a financiamentos públicos e privados, incentivos fiscais e oportunidades de co-desenvolvimento que poderiam reduzir seus custos estruturais. Sem falar que perpetuam uma cultura de baixa autonomia tecnológica, inviabilizam a formação de equipes robustas em ciência de dados e IA e impedem a consolidação de um mercado realmente competitivo.

Falamos tanto em um Brasil protagonista na era digital, mas se quisermos conquistar verdadeiramente esse objetivo, precisamos entender que o caminho não é comprar tecnologia pronta. Ele também a por um redesenho das relações empresariais, pelo amadurecimento do setor privado, e pelo reconhecimento de que os centros de pesquisa são, sim, parceiros essenciais para a construção desse futuro que já está acontecendo agora. É esse alerta que a pesquisa mostra e que, espero, não seja ignorado. 

e a pesquisa completa AQUI